quinta-feira, 24 de abril de 2008

O INSEPARÁVEL AMIGO DO SNOOPY



Passamos por determinados momentos na vida, onde o que ouvimos só fica claro um tempo depois. Um estalo nos dá e pensamos: Era isso! E era. Mas não era o momento de sabermos o que.

Passei por um desses momentos. Para dizer sem contar, imagine você numa sala onde todos falam português. Ou seja, todos se entendem. Como segunda língua, quase todos falam inglês. Menos você, que fala francês. Além disso, poucos conseguem enxergar alguma utilidade no francês. Ou seja, quem é o ser estranho lá no meio?


Havia o momento em que cada um falaria de si mesmo. Um dos presentes disse para irmos em busca do desconhecido. Vão, se joguem no abismo do desconhecido! E eu lá, no meio do abismo.


No meu momento, tentando falar na língua da maioria, disse que é lindo dizer para nos jogarmos no abismo do desconhecido. Mas, pular nesse abismo dá medo. Muito medo. Um medo absurdo, do qual eu estava falando com conhecimento de causa. E terminei dizendo que uma das grandes coisas da vida é, sim!, nos jogarmos nesse abismo, mesmo morrendo de medo.


Pois há pouco tempo a vida me mostrou que não sou apenas eu. Apenas eu a cair nesse vão sem pára-quedas. O tempo passa e as pessoas, querendo ou não, acabam decidindo entre cair e arriscar, ou ficar e esmurecer. Graças a Deus, algumas escolhem a primeira opção.


Mas, quando você conhece essas pessoas há muito tempo, é estranho ser testemunha. É estranho vê-las se jogando e caindo, caindo, caindo... e você ser convidado para assistir no topo do penhasco. E, enquanto caem, elas ainda olham dizendo: Torça por mim! E me espere lá embaixo para comemorar comigo!


E há como não comemorar? Há como não ficar feliz, mesmo sabendo que existe a possibilidade de um deles se esburrachar no chão?


Nesse momento, lembro dos sonhos divididos e dos medos compartilhados. Lembro do tempo onde a possibilidade da queda era só uma possibilidade. Mas almejada, como quando somos crianças querendo muito o presente de Natal. O coração até bate mais forte no peito, na ânsia da espera.

Agora, não há mais a possibilidade. Há a escolha. E alguns escolheram, mesmo com medo. E, mesmo sem querer, esse medo fica sendo um pouco nosso também. Pois sentimos que o tempo passou.

Mas em algum lugar, lá no passado, o Woodstock continua desenhado na parede do parque. Lembro dele como se estivesse agora, na minha frente, desenhado com giz roubado do professor de Matemática.


E quando sinto saudade, faço o seu desenho, na primeira folha de papel que encontro. Só para lembrar. Lembrar que algumas pessoas ficam conosco para sempre.

Nenhum comentário: